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A monetização dos dados do INSS - Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Olímpia-SP
A monetização dos dados do INSS
19/07/2024

A monetização dos dados do INSS

Negociação de dados sociais é negócio milionário explorado pela autarquia de previdência social

Já faz décadas que o Instituto Nacional do Seguro Social tem a custódia dos dados sociais dos brasileiros. Por muitos anos, a guarda dessas informações era exclusiva sua. Por coincidência, nessa época a vida do aposentado era mais tranquila no quesito fraude por vazamento de dados. A situação mudou radicalmente quando na geração atual se descobriu que a gestão de dados pode render milhões ou bilhões de reais.

O próprio INSS acordou há cinco anos para o fato de que ele pode ganhar muito dinheiro com o comércio de dados alheios. Ele vende aos bancos a gestão da folha de pagamento de milhões de aposentados. Todo mês o banco recebe uma listinha de quem teve algum benefício concedido. A partir de então o aposentado comparece até o banco privado para receber seu pagamento.

Mas o interesse do banco não é só pagar algum benefício previdenciário. Isso por si só não gera lucro. O verdadeiro interesse oculto é ter acesso a dados privilegiados de milhares de potenciais clientes. E assim os bancos podem "trabalhar" os dados, assediar e oferecer ao aposentado algum produto bancário oneroso, como empréstimo consignado, financiamento habitacional, seguro veicular ou imobiliário, abertura de conta, previdência privada, aplicação financeira etc. A estimativa é que o INSS embolsou bilhões nos últimos cinco anos com essa prática. O lucro do banco é inestimável, mas é muito além do que pagou à autarquia.

Ao fazer a terceirização da folha de pagamento, embora rentável, a situação se agravou e perdeu o controle. O compartilhamento de dados a várias instituições financeiras (e também a centenas de funcionários e correspondentes bancários) é algo que não torna rastreável a fuga descontrolada de informações. O próprio INSS recentemente chegou a admitir que os dados são vazados na sua gestão; quiçá na administração dos bancos, cujo fim maior é o lucro por si só.

Se o INSS demorou a perceber que a comercialização dos dados sociais é um negócio milionário, há muito que organizações criminosas não só sabiam disso como lucravam muito. A diferença é que antigamente era mais difícil, digamos, ter acesso às informações. Hoje, o comércio legal de dados entre bancos e INSS potencializa o vazamento a criminosos, barateando assim o próprio acesso aos dados privados.

Como já mencionado nesta coluna, associações de aposentados de forma criminosa tiveram acesso a uma listagem de milhares de aposentados A partir disso, fizeram outra prática criminosa: lançar descontos de filiações de aposentados sem qualquer autorização O que não se conhecia era o tamanho dessa monetização de dados. Segundo dados da Controladoria Geral da União (CGU) é d o Tribunal de Contas da União (TCU), esse vazamento de dados está estimado em mais de R$ 2 bilhões em apenas um ano.

Há evidentemente milhares de outros crimes de quadrilhas menores que ninguém nunca saberá ao certo a dimensão do impacto financeiro que elas causam.

Devido à delicadeza do assunto, já que o INSS responde pelos dados privados de milhares de brasileiros sem escolaridade e discernimento, talvez seja a hora de retroceder. A principal função do Instituto não é lucrar comercializando listagem de informações. Por isso, é melhor que menos gente tenha acesso a quem passou a ganhar benefício da Previdência Social.

Fonte: Folha de São Paulo (coluna de Rômulo Saraiva)

 
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